Mario Corso – Psicanalista
Entrei na escola com cinco anos.
Fui sempre o mais novo da turma, tinha entre um e dois anos menos do que os
colegas. O físico tampouco ajudava, franzino e míope. Não venham me ensinar o
que é bullying, sei o que é ir para a aula e enfrentar o pátio. Isso me tornou
sensível a propostas que tentam diminuir o mal-estar na vida escolar. A
discussão sobre o uso de câmeras nas escolas me tocou.
As câmeras de vigilância estão em
todos os lugares. No começo, a novidade incomodava, evocava um mundo
controlado, totalitário. Mas logo nos demos conta de que elas inibem e
esclarecem crimes, ajudam em coisas prosaicas como controlar o trânsito. É uma
vigilância barata, segura, muitas mais virão.
Porém, a presença de câmeras na
escola coloca outras questões. O objetivo seria o mesmo, proteger e prevenir.
As intenções são louváveis, mas elas esquecem um fator fundamental: a escola é
a primeira socialização não controlada pelos pais e é necessário que assim
seja.
Com o olhar vigilante e
onipresente da família, não se cresce. Crescemos quando resolvemos sozinhos
nossos problemas, quando administramos entre os colegas as querelas nem sempre
fáceis. Entre as crianças, inúmeras rusgas se resolvem sozinhas, os pais nem
ficam sabendo, e é ótimo que assim seja.
O bullying deve ser combatido,
mas não dessa forma. O preço a pagar pela suposta segurança compromete a
essência de uma das funções da escola, que é aprender a viver em sociedade sem
os pais e a sua proteção, evocada pela presença da câmera.
Na sala de aula e no pátio da
escola, cada um vale por si. É preciso aprender a respeitar e ser respeitado.
Nós todos já passamos por isso e sabemos como era difícil. Não existe outra
forma, é isso ou a infantilização perpétua. A transição da casa para a escola
nunca vai ser amena.
Essa proposta de vigilância não
se ancora em razões pedagógicas, e sim na angústia dos pais em controlar seus
filhos. Não creio que seja a escola que reivindica câmeras, mas quem a paga.
São os pais inseguros que querem estender seu olhar para onde não devem.
Existe uma correlação forte entre
pais controladores e filhos imaturos, adolescentes eternos que demoram para
assumir responsabilidades. É possível cuidar dos nossos filhos mesmo permitindo
a eles experiências longe dos nossos olhos. A escola é deles, esse é o seu
espaço e seu desafio. A escola ajuda seus filhos a crescer e eles não estão
sozinhos, os professores estão lá, acredite neles. Puxe da memória, muito do
que somos foi por ter enfrentado o pátio.
Rejane Comin (Psicóloga
– CRP 07/17.646)
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